"Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende"
Leonardo da Vinci

terça-feira, 26 de julho de 2011

Racismo, xenofobia e preconceitos afins

Discutíamos, um grupo de franceses e eu, sobre um colega francês (estereótipo : pele branca, cabelos e olhos claros e constante « cara de nojo ») que, ao se referir a um homem negro que vendia amendoim na beira do Sena, empregou uma expressão extremamente racista para « justificar » o fato de recusar-se a comer os amendoins vendidos pelo senhor.
A expressão empregada, evidentemente, chocou a todos, pois mostrava uma faceta oculta de um colega que ninguém imaginava sofrer dessa « doença social ».
Eis que uma das meninas do grupo parte em defesa do colega dizendo que, na verdade, ele não era racista, tanto que havia « ficado » com uma brasileira num passado não muito distante.
Nesse momento, algumas fichas resolveram cair simultaneamente .
A primeira, que eu achava até interessante : muitos estrangeiros acham que os brasileiros são todos negros e estranham ao saber que eu sou brasileira, em razão da pele branca. A eles, explico, sem que isso me cause qualquer constrangimento, que o Brasil sempre abrigou uma enorme gama de imigrantes de todas as partes do mundo, e que, por isso , a miscigenação (mistura de diferentes etnias) é muito grande, havendo, portanto, pessoas com as mais diferentes características físicas.
A segunda, e essa eu posso dizer que me causou um belo choque, foi que o racismo (idéia absurda de que haveria diferentes "raças humanas" e que haveria uma superioridade entre elas) e a xenofobia são parentes muito próximos, o que, instintivamente, todos sabem, mas, acredito, nem todos têm o desprazer de vivenciar. De repente, a etnia brasileira passou a ser uma raça e o fato de um francês ter « ficado » com uma brasileira seria o suficiente para « provar » que uma pessoa como ele, que trata com desdém e preconceito uma pessoa de pele negra não é, de fato, racista.

Em tempo, alguns esclarecimentos : « etnia » é palavra derivada do grego e significa « povo », pessoas unidas pela mesma língua e pela mesma cultura, enquanto que « raça » é um termo altamente criticado, ligado a um conceito antropológico, segundo o qual a « raça humana » comportaria « subraças » ligadas à cor da pele. Por fim, a « xenofobia » é a aversão a pessoas e coisas estrangeiras.
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8 comentários:

Anônimo disse...

Olá Ju,

Incrível como possamos ser tão evoluídos em algumas áreas e tão retrógrados em outras, não?

Adorei sua forma esclarecida e plena de "situar" certos preconceituosos!

Grande beijo para ti,

http://omundoparachamardemeu.blogspot.com/

Ju Foch disse...

É, Dani, parece que a humanidade vive "patinando"... Avança em alguns pontos, retrocede em outros. O que faço sempre que possível é convidar as pessoas a refletirem sobre o que estão dizendo, assim como reflito sobre o que digo e ouço... Quem sabe assim conseguimos avançar mais e retroceder menos?
Bjs

Anônimo disse...

Juju,
Eu não iria comentar isso porque é muito, muito revoltante mesmo e fica até difícil falar sobre isso.
Simplesmente, não existe defesa para tal comentário e posso imaginar com facilidade o que ele falou. Isso me deixa muito triste mesmo.

Bjsss!!!

Leandro disse...

Depois de algumas coisas que vi na minha última viagem à Europa, especialmente na Alemanha, escrevi um post sobre o assunto: http://ocachambinaoeaqui.wordpress.com/2010/08/27/a-europa-em-transformacao/

Bjos!

Edu Corrêa disse...

Um antigo companheiro de trabalho, que já havia morado em Londres, costumava dizer que em qualquer país onde estejamos, estaremos sempre na 'casa do outro', e assim seremos vistos.
Ainda que sejamos um cidadão "queridinho" de uma determinada nação estrangeira, ao nosso menor deslize a primeira coisa de que seremos lembrados pelos nativos é que não pertencemos àquela nação, somos APENAS um imigrante ou um visitante nela. Ou seja, vamos de queridinho à persona non grata, num instante.
Ou, sob a ótica inversa, de acolhedor a xenofóbico, também num instante.

Ju Foch disse...

Alfen,
infelizmente, preconceitos existem em qualquer lugar do mundo.
O importante, no meu ponto de vista, é não aceitar, argumentar, tentar fazer a diferença.
Bjs

Ju Foch disse...

Lê,
como sempre, muito bom o seu texto!
Bjs

Ju Foch disse...

Edu,
o que me intriga não é passar de queridinha a personna non grata, mas de ver que ainda há no mundo tanto do que, um dia, serviu para validar os atos de Hitler...