"Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende"
Leonardo da Vinci

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Catacombes - As catacumbas de Paris



A visita às catacumbas de Paris começa com uma enorme fila do lado de fora. 45 minutos de espera para comprar o bilhete de entrada (8 euros).

A fila se deve a limitação de circulação de pessoas no interior das catacumbas: 200 pessoas por vez.

Vencida a fase da fila, a entrada se dá por uma escadaria estreita e escura: 130 degraus para baixo, em direção ao que, um dia, antes de serem transformadas em catacumbas, foram minas.
A temperatura cai a cada degrau. A iluminação é precária. O clima é de filme de suspense. Corredores sombrios. Grossas grades diante de câmaras escuras. A sensação é que a qualquer momento você poderá ser atacado por alguém ou algo surgindo das sombras. E na entrada da catacumba, um portal em que se lê "Arrète! C´est ici l´empire de la mort." ("Pare! É aqui o império da morte.").


Mas essa visita não tem nenhum intuito de assustar (e eu ficava repetindo isso pra mim mesma mentalmente ao longo do caminho), não é um "trem fantasma", nem uma "casa do terror"; é uma visita a um local histórico.

Inicialmente, os parisienses eram enterrados nos cemitérios das igrejas, depois, devido a superlotação, começaram a ser enterrados em cemitérios criados no entorno da cidade, em "valas" coletivas. Os corpos, depois de decompostos, eram desenterrados e os ossos, guardados. A vala, esvaziada, era utilizada para enterrar outros corpos. Devido ao excesso de enterros (e de matéria proveniente da decomposição, evidentemente), o solo ficou contaminado e as populações que habitavam próximas aos cemitérios começaram a adoecer.

A solução, proposta por um chefe de polícia, seria de utilizar os túneis de mineração para alocar os ossos desenterrados dos sepulcros coletivos.

Assim é que, em 1785, as minas começam a ser utilizadas para abrigar os restos mortais retirados dos cemitérios parisienses. Inicialmente, os ossos eram "jogados" no interior da mina sem qualquer ordem. A partir de 1810, contudo, os ossos começam a ser "organizados" ao longo das paredes dos corredores, ganhando ares decorativos, em que os destaques são tíbias, fêmures e crânios, além de algumas placas com epitáfios.Os ossos menores, estão por trás dos grandes ossos em destaque. Essa é a decoração dos 2km de túneis pelos quais os visitantes passaram ao longo do trajeto.

















Dos epitáfios que fui lendo pelo caminho, dois em especial chamaram minha atenção.


"Si vous avez vu quelque fois mourir un homme, considérez toujours que le même sort vous attend".  

("Se você alguma vez viu um homem morrer, considere sempre que a mesma sorte lhe espera").


"Venez gens du monde venez dans ces demeures silencieuses et votre âme alors tranquille sera frappée de la voix qui s´élève de leur intérieur: 'C´est ici que le plus grand des maîtres, le Tombeau, tient son école de vérité'." 

("Venha gente do mundo venha nesses lares silenciosos e sua alma antes tranquila será atingida pela voz que surge de seus interior: 'É aqui que o maior dos mestres, a tumba, mantém sua escola da verdade'.").

O passeio é interessante, mas não está entre os que eu classificaria como indispensável.


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Vergonha alheia:

No final do passeio, alguns visitantes foram convidados a abrir suas mochilas, pois haviam sido flagrados furtando ossos. Os gatunos estavam levando alguns fêmures e dois crânios. É inacreditável!

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Algumas dicas:

Quem quiser fazer o passeio deve descer na estação do metrô Denfert-Rochereau; a entrada para as catacumbas é bem em frente à saida do metrô.

O trajeto é longo: 130 degraus para baixo, 2 km de caminhada e 83 degraus para cima. Não tem banheiro, não tem onde comprar água, nem onde deixar as coisas (casacos, bolsas etc).

De acordo com o aviso na porta, a visita é desaconselhável para pessoas que sofram de insuficiência cardíaca ou respiratória, pessoas sensíveis e crianças. Eu incluiria pessoas com problemas de claustrofobia...

Dica importante para as mulheres que resolverem fazer esse passeio: nada de sandália, nem sapato aberto. Como é uma antiga mina, há lugares em que há água no chão e pontos em que mina água. No dia em que fiz a visita, estava de "melissinha" e acabei molhando meus pés numa poça d´água da qual não consegui escapar. Como não é água apenas, mas água misturada com restos humanos (afinal os ossos estão por todos os lados), não é a melhor idéia molhar os pés nessa bendita água. Resultado pra mim: uma bela alergia no meu pé. 

Quem quiser saber mais (sobre as catacumbas, óbvio): Catacombes de Paris

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domingo, 24 de abril de 2011

Versailles na Primavera!

Em dezembro, visitei o Château de Versailles. Era inverno, a neve tomava conta de tudo, os jardins estavam fechados à visitação, mas o programa é ótimo.


Agora, primavera, fui novamente conferir o castelo e seus jardins. E na primavera, o passeio é ainda melhor!





 


Realmente, o Château de Versailles é um programa obrigatório a quem visita Paris, mas dê preferência a visitá-lo na primavera e desfrute de toda a beleza dos jardins.

Para chegar lá, tem uma linha de trem (RER C) que parte de Paris em direção a Versailles Rive-Gauche* e cuja estação final é a alguns passos do castelo. A viagem leva cerca de 40 minutos e custa, ida e volta, cerca de 6 euros por pessoa e o bilhete pode ser comprado em qualquer estação de metrô de Paris.

A visita ao Castelo custa 15 euros e para visitar os jardins você pagará mais 6 euros. 

Cada centavo é compensado, pois além da parte histórica da visita do castelo, a exuberância dos jardins é ampliada, pois o passeio é todo acompanhado por música clássica "ambiente" que preenche cada centímetro das áreas verdes, fontes e estátuas daquele magnífico jardim,  fazendo o visitante viajar no tempo e se sentir como se estivesse na época de Luís XIV.

Como a extensão dos jardins é imensa, se você quiser conhecer tudo (tudo mesmo), recomendo que alugue um carrinho (daqueles de golfe). O aluguel fica em 7 euros e o carrinho comporta 4 pessoas.

(Dica: verifique a previsão do tempo antes de ir, pois com um dia ensolarado o passeio fica ainda mais perfeito. Meteo France ).



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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Cor de pele?

Sempre me incomodei com as meias "cor de pele", ou pior, "natural", que encontramos no Brasil. "Cor de pele" de quem, cara pálida?

O "natural" das meias sempre me deixam com aquele tom "artificial", do tipo "casadinho" de festa de criança: metade branca, metade marrom...

E aí, temos duas opções: optamos pelo tom artificial "natural" ou pelo deprimente "champagne"... Sério! Quem fica bem com meias "champagne"? Isso não é uma opção!

A solução que aprendi com uma "avó do coração" foi banhar as meias "champagne" em chá inglês (quente, óbvio) pra conseguir um tom mais próximo ao da minha pele. A técnica funciona, mas dá trabalho e requer uma certa dose de antecedência!

Aqui, fiquei toda animada, pois encontrei as meias da minha cor: "peau d'ange"... Poético, não? Pele de anjo...

Pois é, mas só serve no inverno, pois o sol apareceu e o "peau d'ange" já não é mais a melhor escolha... E não há outra escolha par quem é brancha demais para a "cor de pele" e morena demais (sei...) para a "peau d'ange". O jeito é recorrer à astúcia de minha "avó do coração"... 

Por que alguém não cria meias incolores??? Tenho certeza que ia ter muita gente contente. Fora que o público é o mais amplo possível, já que, politicamente corretas, as meias incolores não fazem distinção de cor.

#ficaadica!  ;)


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domingo, 17 de abril de 2011

Fondation Henri Cartier-Bresson

Fonte: Henri Cartier-Bresson
Essa é pra quem gosta de fotografia.

"L’appareil photographique est pour moi un carnet de croquis, l’instrument de l’intuition et de la spontanéité, le maître de l’instant qui, en termes visuels, questionne et décide à la fois. Pour « signifier » le monde, il faut se sentir impliqué dans ce que l’on découpe à travers le viseur. Cette attitude exige de la concentration, de la sensibilité, un sens de la géométrie. C’est par une économie de moyens et surtout un oubli de soi-même que l’on arrive à la simplicité d’expression.
Photographier : c’est retenir son souffle quand toutes nos facultés convergent pour capter la réalité fuyante ; c’est alors que la saisie d’une image est une grande joie physique et intellectuelle.
Photographier : c’est dans un même instant et en une fraction de seconde reconnaître un fait et l’organisation rigoureuse de formes perçues visuellement qui expriment et signifient ce fait.
C’est mettre sur la même ligne de mire la tête, l’œil et le cœur. C’est une façon de vivre."


 

("A câmera é para mim um caderno, um instrumento de intuição e de espontaneidade, o mestre do instante que, em termos visuais, questiona e decide ao mesmo tempo. Para "traduzir" o mundo, é preciso se sentir envolvido com o que se descortina através do visor. Essa atitude requer  concentração, sensibilidade, senso de geometria. É por economia de meios e, especialmente, um auto-esquecimento a que se chega à simplicidade de expressão.
Fotografar: é prender a respiração quando todos os nossos sentidos convergem para captar a realidade fugaz; é por isso que a captura da imagem é uma grande alegria física e intelectual.
Fotografar: é ao mesmo tempo e em uma fração de segundo, reconhecer um fato e a rigorosa organização de formas percebidas visualmente que lhe exprimem e dão significado ao fato.
É alinhar cabeça, olho e coração. É um modo de vida.")

Em Paris, numa pequena e simpática rua de Montparnasse, uma casa moderna abriga a Fundação Henri Cartier-Bresson. A visita à fundação custa 6 euros e o visitante pode se deliciar com as fotografias maravilhosas desse fantástico fotógrafo, pode ver a máquina que ele usava, exposta em uma vitrine, e mesmo os desenhos que ele fazia (infelizmente, essa parte tive de ver de longe, pois o mezanino onde estão expostos os desenhos estava fechado).

Nessa foto, Cartier-Bresson.
No último andar da casa, há poltronas e cadeiras para que os visitantes possam folhear os livros com os trabalho de Cartier-Bresson (1908-2004).

Por uma enorme sorte, fui, sem saber, no último dia de uma exposição fotográfica excelente de David Goldblatt, vencedor do prêmio HCB de 2009, com fotos fantásticas sobre Joanesburgo.

Para quem quiser conhecer, a Fundação Henri Cartier-Bresson está localizada na 2, Impasse Lebouis, 75014 Paris, e fica bem perto das estações "Gaité" da linha 13 (saída 1, sentido Rue de l´Ouest) ou "Edgard Quinet" da linha 6 (saída no sentido da Rue de la Gaité).

Mais informações: Henri Cartier-Bresson 


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Pontes e muros

Li na postagem Catando a poesia que entornas no chão, do blog A monga e a executiva, "Perdão. Perdão se hoje fui um muro. Quem sabe um dia possa ser sua ponte."

Aquilo me emocionou extremamente. Fiquei pensando em quantos muros encontramos ao longo de nossas vidas. E quantas pontes, quantas pessoas que surgem para nos ajudar a atravessar um rio agitado, um momento turbulento em nossas vidas. E quantas pessoas são muros por não saberem que podem ser pontes. 


Fiquei pensando nas vezes em que eu mesma tive de ser muro, mesmo que alguns tijolos de minha estrutura não desejassem a rigidez do muro. E quantas vezes, feliz, fui ponte, mesmo que para pessoas que preferiram não atravessar. Mas fui ponte, mesmo assim. A travessia é a escolha do outro, e, quanto a ela, só o que podemos fazer é respeitar.

Na minha vida, em um momento, tive de ser um muro enorme, intransponível, inatingível. Fui muro, mas doeu muito em mim. Peguei os tijolos e alinhei-os para virar ponte, mas o choque do muro já havia imobilizado quem deveria atravessá-la. Imobilizou-se tanto, que tornou-se muro. Enorme, intransponível, inatingível. E eu, ponte, tentando chegar no fim do caminho, em cuja estrada há um muro, que um dia pode ser ponte.

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E os ETs respondem...

Fonte: Pc saudavel
Um dia depois de ter postado Chamem os ETs, eis que os ETs atendem meu chamado...

Jennifer Lopes, 41 anos, foi eleita a mulher mais bonita do mundo. 

Eu sei, eu sei... Ela é casada e tem filhos. Pode até parecer que os ETs não entenderam a mensagem, né?

Mas JLo se casou aos 37 anos, com o cantor Marc Anthony, com quem teve os gêmeos!!

Ou seja, foi solteira e sem filhos até seus 36/37 anos. Alguém vai dizer que ela está atrasada?!

#mordealingua!


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quinta-feira, 14 de abril de 2011

Chamem os ETs

O que está acontecendo com o mundo?! Onde foram parar as pessoas de 30 (ou 30 e uns) solteiras e sem filhos? Foram todas abduzidas por ETs ensandecidos que buscavam reconstruir Saturno (nem Vênus, nem Marte)? Sim, porque aos 30 e uns, a pessoa está com excelente desenvolvimento intelectual (se tiver feito por onde, claro) e ainda tem o vigor físico e os sonhos de reconstruir todo um planeta.

Ou será que esses ETs marotos os abduziram para que repovoem Saturno?

Seja como for, abduziram meus pares e me esqueceram aqui... E quem fica se sentindo um ET sou eu!

Hoje, almoçando com as meninas que trabalham no mesmo andar em que faço meu estágio, do nada, como uma ave de mal agouro, surgiu a pergunta: "quantos anos você tem?".

Sinceramente, não tenho nenhum problema com minha idade. Pelo menos, ainda não.

O problema é a seqüência que vem depois dessa perguntinha inocente... Eu já estou até decorando...

E lá vieram as irmãs siamesas da pergunta inocente: "você é casada?" "tem filhos?".

Respondo com naturalidade e vejo o olhar das minhas companheiras de almoço, todas na faixa de seus 24 anos, que diziam "tadinha, quem mandou estudar tanto"...

Por fim, uma delas, achando que os olhares não eram o suficiente, acrescenta que tem uma amiga, de 28 anos, que ainda não se casou e se sente "atrasada".

"Atrasada?! Era trem?! Tinha horário pra pegar?!"

Por um breve segundo, me senti constrangida e tive vontade de inventar que era divorciada e que não tive filhos porque meu ex-marido tinha baixa contagem de espermatozóides em razão da varicocele inoperável de que sofria (não sei nem de onde eu tirei isso).

Prendi o riso e fechei a boca pra não falar essa bobagem, mas que deu vontade, isso deu!

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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Une épine dans le pied

Mais uma das expressões franceses que aprendi por aqui, na mesma linha da Ma tasse du thé .

Hoje escutei que alguma coisa era "une épine dans le pied" (literalmente, um espinho no pé) de alguém. "Coitadinho", pensei, "ele não calçava sapatos?".

Para nós, o pior que poderia acontecer com esse alguém seria ter uma pedra no sapato, mas a solução seria simples: descalçar os sapatos, sacodi-los, calça-los novamente e continuar seu caminho...

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E a vovó diz: "perdeu, netinho!"

Lia o jornal no caminho para o estágio quando uma matéria me chamou a atenção: pessoas estão sendo presas por furtar metais, em especial, cobre. O número dessas ocorrências aumentou consideravelmente, e, de acordo com a notícia, até 15 de março deste ano, 15 toneladas de metal teriam sido furtados de todos os lugares possíveis, inclusive de cemitérios, onde letras em ouro, cruzes e outros ornamentos de túmulos estão sendo subtraídos.

Ainda de acordo com a notícia, a pena por tal delito é de, em média, 08 a 18 meses de reclusão em regime fechado.
Fonte: Leila Cordeiro

Mas o mais surpreendente ainda estava por vir...

No mês passado, uma senhora de 75 (setenta e cinco) anos de idade foi presa em flagrante delito ao furtar cabos. A pequena arte da boa velhinha, que pretendia "fazer um ganho" com o objeto de seu delito, causou a interrupção do serviço de Internet na Armênia por algumas horas.

Que mundo é esse???

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Cultura geral ou maluquice geral?

A França tem um área de 543.965Km² ocupado por, aproximadamente, 65.500.000 habitantes.

O Brasil, em suas terras que se estendem por 8.514.877 Km² (valor arredondado), é habitado por 190.732.694 pessoas.

A Região Sudeste de nosso país, composta pelos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, ocupa, aproximadamente, 924.511 Km², quase o dobro da França, e sua população é de 80.800.000 habitantes.

Papo de maluco? Não! Por essas bandas de cá o povo adora perguntar a extensão do território do País, do Estado, do Município, o número de habitantes etc etc etc etc.

Hoje chegaram ao cúmulo de me perguntar em que longitude a linha do equador cortava o Brasil!
Das duas, uma: ou eu levo na brincadeira ou vou começar a ter problemas graves de auto-estima... E eu lá sei tudo isso?!

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sábado, 9 de abril de 2011

Brutalidade exacerbada

Segunda-feira, enquanto me dirigia ao estágio, li no jornal uma matéria em que era relatado o estado de saúde de um jovem de 19 anos, em coma há alguns dias, depois de ter sido brutalmente espancado no metrô, diante de sua namorada, que a tudo assistiu sem nada poder fazer.

O motivo? Um "namoro" proibido...

Os agressores do rapaz moram em determinado bairro, onde reside a menina, "pivô" da história. Os habitantes do tal bairro não gostam dos habitantes do bairro onde o rapaz reside e, óbvio (não?!), o namoro não poderia acontecer...Os agressores furtaram o celular de uma amiga da menina e enviaram um torpedo perguntando onde ela estava. Diante da resposta de que a jovem estava no metrô com o namorado, os covardes partiram ao encontro do casal e agrediram, em bando, o rapaz até que bem pouco restasse de vida em seu corpo.

Sinceramente, não dá pra entender...

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Tiros em Realengo

Ontem, um rapaz de 24 anos de idade entrou numa escola pública de Realengo e ceifou a vida de 12 crianças, em sua maioria meninas. Além das vidas que roubou, feriu 18 pessoas e marcou a fogo a memória de incontáveis outras, que sempre se lembrarão do terror a que sobreviveram.

Ontem, um rapaz de 24 anos de idade resolveu que era o momento para passar do anonimato ao "estrelato", gravando seu nome na história de nossa cidade, na memória de um povo, nas páginas policiais.

Ontem, um rapaz de 24 anos de idade achou por bem reproduzir cenas de uma chacina norte-americana, em terras tropicais, espalhando pânico e terror pelo caminho sangrento em que, por fim, deixou tombar seu corpo inerte.

Ontem, um rapaz de 24 anos de idade mostrou sua face triplamente covarde. Covarde por agredir quem não lhe fez mal. Covarde ferir e matar crianças. Covarde por escolher o suicídio à responsabilidade por seus atos atrozes.

Ontem, somente ontem, começou a tragédia de famílias que tiveram roubados seus bens mais preciosos: o convívio com suas crianças, os seus sorrisos, os seus sonhos e as suas esperanças. Começou ontem, mas não tem data para terminar. E talvez não termine jamais, pois sempre restará a lacuna, que de forma tão brutal, lhes foi imposta.

Ontem, somente ontem...

Às famílias das vítimas, meus sinceros sentimentos. Não há palavras nem gestos que possam reparar o imenso dano que vocês sofreram. Ninguém pode compreender a dor de vocês. Podemos até imaginar, mas a dor verdadeira, aquela pungente, só quem a conhece, são vocês, familiares dessas jovens vidas perdidas sem explicação. Às famílias, que vocês encontrem forças para continuar.

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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Falha na comunicação

Voltava do estágio num fim de tarde qualquer quando reparei numa moça, dentro do mesmo trem em que eu estava, olhando com cara de assustada para o mapa de estações a que aquele trem servia e as outras estações atendidas por outros trens.

Fiquei uns bons minutos observando a moça e cheguei à conclusão que ela não estava chegando à qualquer conclusão. Resolvi interceder. Aproximei-me e perguntei se ela precisava de ajuda. Ela não entendeu. De francês ela dó falava "moi". Perguntei qual o idioma que ela falava (idiota, perguntei em francês). Óbvio que ela não soube responder. Passei ao método "tentativa e erro"; comecei a perguntar em inglês, espanhol e português até que conseguimos estabelecer o idioma dela: russo. Com perdão do trocadilho infame, aí a coisa ficou russa...


Como não falávamos a mesma língua, partimos para a linguagem de sinais e ela me disse (eu acho) que já estava fazendo aquele trajeto pela terceira vez e que queria ir para o centro de Paris. Peguei meu mapinha de bolso, mostrei a linha em que estávamos, onde ela deveria descer e qual o trem que ela deveria pegar em seguida para ir para onde ela me mostrou que queria ir.

Voltei ao meu assento e fiquei vendo a moça revirar o mapa que eu havia lhe dado. Sentia-me preocupada com ela, mas não sabia mais como ajudar.

Ao me ver descer, ela me chamou para que eu mostrasse a ela no mapa em que estação estávamos. Mostrei, me despedi e desci, mas carreguei comigo a frustração de não ter podido ajudar mais.

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domingo, 3 de abril de 2011

Paisagem da janela

Meu novo cantinho consegue ser menor que o studio em que eu vivia em Toulouse. E pra chegar a ele, é preciso subir uma quantidade absurda de degraus. Minhas coisas ainda estão bagunçadas. E eu ainda estou buscando me adaptar.


Meus amigos do curso, cada um seguiu seu rumo por causa do estágio; espalharam-se pela França e além. Por enquanto, estou um pouco mais sozinha aqui. Mas me sinto mais plena também. Talvez sejam os ares parisienses, ou talvez seja a vista da minha janela, ou talvez seja algo que, em mim, mudou.


Insistente, a música "Paisagem da janela", de Lô Borges e Fernando Brant, toca na minha "rádio particular" enquanto, inebriada com o canto dos pássaros e o som da cidade que parece não parar jamais, contemplo a mesquita a minha frente, paisagem da minha janela. 



Paisagem da Janela
Composição: Lô Borges e Fernando Brant
Interpretação: Milton Nascimento

"Da janela lateral do quarto de dormir
Vejo uma igreja, um sinal de glória
Vejo um muro branco e um vôo pássaro
Vejo uma grade, um velho sinal

Mensageiro natural de coisas naturais
Quando eu falava dessas cores mórbidas
Quando eu falava desses homens sórdidos
Quando eu falava desse temporal 
Você não escutou

Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Você não quer acreditar
E eu apenas era

Cavaleiro marginal lavado em ribeirão
Cavaleiro negro que viveu mistérios
Cavaleiro e senhor de casa e árvores
Sem querer descanso nem dominical

Cavaleiro marginal banhado em ribeirão
Conheci as torres e os cemitérios
Conheci os homens e os seus velórios
Quando olhava da janela lateral
Do quarto de dormir
 
Você não quer acreditar
Mas isso tão normal
Você não quer acreditar
Mas isso tão normal
Um cavaleiro marginal
Banhado em ribeirão
Você não quer acreditar"
 
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E a batata virou purê

Desde sexta até hoje, perdi as contas de quantas vezes subi e desci as escadarias que me levam ao meu apartamento.

Eu perdi as contas, mas minhas "batatas das pernas", não. E me mandaram a conta.

Mesmo com relaxante muscular, hoje, ao me levantar, caí sentada. As "batatas das pernas" resolveram transformar-se em "panturrilhas" e a dor dessa "mutação" é enorme. Andar, hoje, só na ponta dos pés...

E tem gente colocando prótese de silicone nas panturrilhas...

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De mala e cuia

Sexta-feira, 1º de abril. O carro alugado na véspera já está lotado com as minhas coisas: livros, apostilas e roupas; há também minhas duas únicas panelas, alguns copos e os mantimentos que estavam no armário e na geladeira. Nada demais, mas que acaba sendo coisa demais.

Despeço-me dos amigos que ainda permanecerão no campus e dos funcionários que vem falar comigo. Passeio um pouco pela faculdade, tomada de neblina e frio. Despeço-me dos caminhos que fiz nos últimos seis meses, caminhos que me levavam à biblioteca, às salas de aula, à cafeteria... O tempo não ajuda, mas tiro algumas fotos para guardar de lembrança.

Volto ao carro. GPS programado; agora é pé na estrada rumo à Paris. Obedeço às instruções daquela voz "robotizada" e Toulouse vai ficando cada vez mais distante em meu retrovisor.

Por 6 horas exatas, dirijo pelas estradas da França, aproveitando o prazer de conduzir. O caminho é longo, atravessa quase toda a extensão da França no eixo norte-sul, mas o tempo parece passar mais rapidamente que de costume e, sem mais porquê, já estou diante do meu prédio em Paris.


Um amigo se dispôs a me ajudar com a mudança. Chego, mas ele ainda não está lá. Por telefone, me diz que se atrasará uns 15 minutos, pois estava preso num engarrafamento causado por um louco que resolveu deitar-se no meio da rua para fazer poses. Rindo diz que são coisas de Paris. O pior é que já começo a saber disso.

Enquanto espero, vou retirando as coisas do carro e as dispondo no hall de entrada do edifício, o que termino de fazer no momento em que meu amigo chega.

Juntos, carregamos minhas coisas até meu novo apartamento, no sexto (e último) andar do edifício, que, como quase todos os edifícios em Paris, não tem elevador.

No fim, suados e cansados, paramos para descansar por alguns minutos, até que meu amigo, inquieto, resolve começar a desembalar as coisas e guardá-las.

Muitas das coisas já estão "arrumadas" quando dá a hora de meu amigo partir. Antes de ir, contudo, ele abre a geladeira para verificar se eu teria o que jantar e vendo que só tinha água, maionese, mostarda e ketchup, ele me "carrega" escada a baixo para que eu vá ao mercado. Diz que se eu não aproveitar para ir agora, vou ficar com preguiça e acabo sem comer direito. O pior é que ele tem razão. Então, obedeço.

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