Passeava pelo centro de Paris num sábado qualquer quando recebi um folheto da "La Commission des Citotens pour les Droits de l´Homme " (Comissão dos Cidadãos pelos Direitos do Homem) (CCDH) em que imputavam aos psiquiatras e aos remédios psiquiátricos a responsabilidade por crimes e suicídios.
A manifestação trazia em destaque "La psychiatrie et ses traitements sont responsables de beaucoup trop de morts. Ça suffit! " ("A psiquiatria e seus tratamentos são responsáveis por muitas mortes. Já chega!").
Como "fatos", apontavam que a taxa de cura da psiquiatria é de menos de 1%; que a maioria dos grandes criminosos estavam em tratamento psiquiátrico ou teriam sido submetidos a tratamentos psiquiátricos antes da prática de seus crimes; e que 70% dos suicidas ou estavam em tratamento psiquiátrico ou tomavam psicotrópicos.
Como "soluções", propunham o julgamento e a responsabilização dos psiquiatras que dão alta aos "assassinos" e que prescrevem psicotrópicos aumentando os riscos de suicídio e de prática de atos violentos; e um controle externo da profissão, com avaliação dos resultados reais da psiquiatria, seus métodos e os riscos que ela impõe a sociedade.
É evidente que haja um grande número de suicidas que já tenha se submetido a tratamento psiquiátrico. É evidente, também, que alguns assassinos se submetessem a tratamento. A culpa dos suicídios e dos crimes praticados, contudo, não é do psiquiatra e/ou do tratamento, mas dos distúrbios emocionais, psicológicos, mentais de que os suicidas ou assassinos sofriam.
A meu sentir, trata-se de um erro de premissa: parte-se de uma premissa errada para chegar-se, evidentemente, a um resultado equivocado.
Responsabilizar os psiquiatras pelos crimes praticados por pacientes ou ex-pacientes é como culpabilizar o fabricante de colchões pelas famílias desfeitas em razão de adultério.
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