Caminhamos

Os passos se misturam na estrada. Os meus e os seus. Os deles, também. E se misturam aos nossos de tal forma que não mais os distinguimos. São todos deles. São todos nossos.

 De tanto caminhar, em algum momento, já não sabemos mais de onde partimos nem aonde pretendíamos chegar. Simplesmente caminhamos e deixamos o curso da vida seguir; livre, errante.

Fazemos nossas escolhas. Escolhemos o rumo a tomar, a estrada a seguir, mesmo que já não nos lembremos de nossas reais motivações.

Se algum dia reencontraremos o início da trilha, não nos cabe saber. Seguimos. Caminhamos.

E levamos conosco a nossa bagagem emocional, a única que nos é realmente importante. A única que nos faz sermos exatamente quem somos; únicos.

E levamos conosco as nossas lembranças, algumas boas, outras nem tanto. As lembranças do que vivemos; do que sentimos; do que ouvimos, dissemos ou calamos.

Das lembranças ruins, tentamos nos livrar. É peso morto. Só pesará nossas mochilas e atrapalhará nosso caminho. Não precisamos delas, mas das lições que elas, nem sempre gentis, nos ensinaram. As liçoes, sim, levamos. Mas levamos com doçura, sem peso.

As boas lembranças, essas carregamos em nossa mochila da vida, mesmo que, às vezes, por defesa, por necessidade ou por puro medo, precisemos afundá-las e soterrá-las com outras memórias.

Nem sempre, porque elas são boas, elas se tornam fáceis. Às vezes, justamente por serem boas, as lembranças machucam e não conseguimos lidar com elas. E lá vão elas para o fundo da mochila...

Se um dia as poderemos tirá-las de lá, não nos cabe saber. Seguimos. Caminhamos.

E assim se passam os dias, que se transformam em semanas, que viram meses e, quem sabe, anos.

Quanto tempo se passará até que encontremos o rumo certo a seguir, não nos cabe saber. E seguimos. E caminhamos. E esquecemos. E lembramos.

Nesse constante fluxo a que chamamos vida.

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