"Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende"
Leonardo da Vinci

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Linha cruzada de sentimentos

Assistimos a tantos filmes policiais (pelo menos, eu assisto), vemos tantas notícias preocupantes nos jornais do mundo inteiro, a internet nos "bombardeia" incessantemente com uma crescente banalização dos crimes, que, no fim, acabamos vivendo em busca de segurança e olhando com desconfiança para todos os lados.

Sexta-feira passada, acordei super cedo pois tinha que pegar um avião para Paris para uma aula prática no Aeroporto de Orly.

Depois da aula, que durou o dia inteiro e me fez andar feito uma louca para cima e para baixo, literalmente, corri para a estação de trem e fui para Bordeaux, cidade que não conhecia e onde havia decidido passar o final de semana... Pelo mesmo preço de uma passagem de Paris a Toulouse, comprei duas passagens: uma, Paris-Bordeaux, e outra, Bordeaux-Toulouse e lá fomos eu, euzinha e eu mesma.

"Sozinha?!?!" Essa é a pergunta que mais escuto de meus amigos, daí e daqui. "Sim, sozinha. E por que não?"

Minha teoria é: se quero fazer algo, por que deveria condicionar isso a ter companhia para fazê-lo? Se tiver companhia, melhor, mas não tendo... faço assim mesmo!

Assim, cheguei a Bordeaux já passava das 22:00 e o hotel em que me hospedaria ficava a 10 minutos a pé da estação. Quando estava me dirigindo ao hotel, um homem me abordou e me pediu indicação de algum hotel na região para que ele pudesse pernoitar, pois havia perdido a estação em que deveria descer e agora precisaria dormir em Bordeaux para seguir viagem na manhã seguinte.

Expliquei que eu havia feito minha reserva pela internet num hotel de 2 estrelas (propaganda enganosíssima) que eu não conhecia, mas que meus critérios tinham sido objetivos: banheiro não compartilhado, proximidade da estação, horário do check-in e preço, o mais barato que pude encontrar nessas condições.

Fomos conversando e caminhando até o hotel. Chegamos, fiz o meu check-in, me despedi e o deixei na recepção, providenciando o seu check-in. Exausta que estava, nem dei muita importância a nada nem a ninguém, só queria dormir; entro no quarto, tomo meu banho, visto meu pijama e me enfio debaixo das cobertas (que eram tão "2 estrelas" quanto o hotel).

Eis que, já deitada, curtindo aquela "molezinha" que antecede o sono, escuto o telefone do meu quarto tocar. "Como assim?! Será que esqueci de assinar alguma coisa na recepção?! Poxa, não dava para esperar até amanhã de manhã?!"

Atendo e, eis minha surpresa, não era da recepção; era o rapaz que havia caminhado comigo havia poucos minutos (chamemos de Mr.X.).

Mr.X., então, falando como se de um fôlego só, me atropela com um monte de informação; diz que havia ficado encantado comigo, que precisava me ver, que queria bater na minha porta e achou melhor me telefonar antes (ufa!), que não queria o risco de nunca mais me ver... enfim... E eu, completamente muda do outro lado da linha, sem entender o que estava acontecendo ali. Num momento em que ele parou de falar um pouco, expliquei-lhe que "sentia muito", mas estava deitada e precisava dormir. Despedi-me educadamente e desliguei.

Cinco minutos se passaram, eu já começando a digerir aquilo tudo e pegando no sono, o telefone toca novamente: era Mr.X. mais uma vez. Agora, ele pedia desculpas pela forma como ele "me abordou", mas nunca havia se sentido daquela forma e precisava me ver. Novamente, buscando não ser grosseira, mas por "receio" do que qualquer outra coisa, agradeci e me desculpei, mas, realmente, precisava dormir. Nos despedimos e desliguei.

Fonte: Spirit Dreamer
"Pronto. Agora é que não durmo mais..."

O bendito hotel, que como disse, era 2 estrelas, e uma das estrelas já devia estar "cantando pra subir". O quarto, mais que simples, era precário, com direito a uma decoração mais que duvidosa constituída por um poster de navio e uma corda  de ancoragem presa à parede formando um "W". O banheiro, em fibra, era tão pequeno que para tomar banho tinha que deixar a cortina aberta, senão encostava ou na cortina ou na parede, dois lugares em que eu não queria encostar de jeito nenhum. E, óbvio, diante dessas circunstâncias, a porta do quarto não tinha tranca interna, o que significa que, pelo lado de fora, ela abria com a chave do quarto, que estava comigo. Mas saber que a chave de acesso ao quarto estava comigo não era o suficiente para que eu pudesse dormir tranquilamennte. Ora, sabemos que há sempre uma chave reserva na recepção do hotel. "E se o Mr.X. pede a chave ao recepcionista? E se..."

Levantei "de um pulo", agarrei a cadeira do quarto, fui até a porta e, encaixando a cadeira entre a maçaneta e o aparelho de calefação (que parece um radiador preso a parede), travei a porta. Testei algumas vezes se a porta estava bem travada e, vendo que, realmente, era impossível abri-la, fui dormir.

Na manhã seguinte, quando abri a porta, pousado no chão estava um cartão de visita do Mr.X., com um bilhetinho "J´espere vous revoir" ("espero lhe rever") e na recepção, outro bilhetinho dizia "Bon sejour a Bordeaux" ("boa estadia em Bordeaux"). Com os bilhetes, os dados pessoais de Mr.X. (nome completo, telefone, e-mail e endereços comercial e residencial).

Enfim, o Mr.X. pode até ser uma boa pessoa, mas, acostumados que estamos a desconfiar dos outros, a atitude dele, que talvez, no passado, encantasse as "mocinhas solteiras" e "arrebatasse corações", a mim, causou medo e a hilária "reação de defesa" digna dos filmes policiais de que tanto gosto; uma verdadeira linha cruzada de sentimentos.

***

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bem Juju, muito bem. Podia ser apenas um cara que gostou muito de vc ou; uma pessoa a procura de aventutas e disposto a tudo para conseguir. Tenha cuidado nessas andanças pela França. Abraços!!!

alfen.

Claudia disse...

Isso amiga, essa galera é muito louca. É melhor não se descuidar.