"Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende"
Leonardo da Vinci

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Insubstituíveis

Pessoas vêm e vão; bens materiais se consomem e são consumidos avidamente. De concreto, mesmo, só o abstrato; as sensações e lembranças, únicos bens de que não podem nos privar.

Do meu baú de recordações, tiro algumas das lembranças da minha infância que se encontram vivas em meu coração:

# o cheiro da pele da minha mãe e a textura de suas mãos;
# a careca do meu pai e o esforço que eu, pequenina, fazia para me esgueirar entre o banco do motorista e o teto do carro só para lhe dar um beijo na careca enquanto ele dirigia;
# passar horas gravando as minhas "cantorias" e "tagarelices" no gravador do papai;
# acreditar que eu era portuguesa por ter nascido na "Casa de Portugal", maternidade no Rio Comprido, Rio de Janeiro/RJ;
# dizer para todos que meu nome era "Zuzulana" e corrigir quem falava "Juliana";
# pedir para a mamãe limpar minhas orelhas só pelo cafuné e, quando ela terminava, pedir "limpa mais!";
# dormir na cama dos pais quando a noite transformava tudo ao meu redor e eu me sentia indefesa;
# ir, abraçada ao travesseiro, enfrentar os monstros imaginários no meu quarto porque não conseguia dormir com o ronco do papai;
# abraçar a minha mãe enquanto ela falava algo só pra escutar a voz dela ecoando em sua caixa torácica;
# deitar na barriga do papai e achar que era o travesseiro mais perfeito do mundo;
# acordar e ir para a janela dar "bom dia ao sol" com minha avó materna;
# pedir carinho nas costas para a minha avó e dormir enquanto ela sussurrava o "Pai Nosso";
# brincar de correr atrás dos gansos na casa da minha avó paterna;
# andar pelo mato usando as botas de salto agulha da minha avó;
# viver cheia de farpas por gostar de catar pinhas no mato;
# fazer malabarismo com uma bacia para recolher as jaboticabas que meu primo arremessava pra mim do alto da Jaboticabeira, pois eu tinha medo de subir;
# descobrir que eu sei subir em árvores e que é muito mais fácil subir do que descer;
# sentar na grama com uma bacia de jaboticabas e me deliciar;
# fundar meu primeiro clubinho com 7 anos de idade;
# andar pra cima e pra baixo com a máquina de escrever (que ganhei aos 7 anos) e a máquina fotográfica para escrever minhas estórias e registrar as imagens;
# inventar que estava com catapora só pra poder abrir os meus presentes de aniversário sozinha, sem meus amiguinhos;
# brincar que o meu quarto era uma nave espacial disfarçada e fazê-lo decolar com meus amigos;
# brincar de Barbie e gastar mais tempo montando e desmontando os acessórios do que brincando (e essa era a brincadeira);
# inventar que tinha um anel especial (e transparente) que me dava super-poderes;
# achar que 18 anos é muita coisa e que com 21 estaria plenamente realizada, com uma profissão estável, casada e com filhos;
# ver que o tempo voa e que a vida é muito boa para deixar o tempo passar impunemente;
# atacar o açucareiro da casa da avó;
# lamber a mão suja de pimenta, por achar que era alguma calda de compota;
# grudar leite em pó no céu da boca;
# tomar naldecon sem estar gripada, só pelo gostinho de cereja;
# ter que voltar pra casa vestindo um casaco como se fosse saia porque meus amiguinhos esconderam a minha saia enquanto eu estava na aula de educação física;
# segurar meu irmão no colo, o primeiro bebê que eu pude segurar;
# ajudar a trocar as fraldas do meu irmão e tomar um banho de "pipi";
# ouvir meu irmão falar meu nome pela primeira vez ("Tutuana");
# brincar de girar meus irmãos no ar e me divertir com as gargalhadas deles;
# separar as brigas dos meus irmãos;
# ser separada enquanto brigava com meu primo Rapha, um irmão pra mim;
# "bater bafo" com os amigos e voltar pra casa cheia de figurinhas de carros e futebol;
# tentar "passar trote" por telefone, ficar com pena da pessoa e desistir (não nasci pra isso);
# brincar de escorregar na ribanceira com folha de bananeira e me ralar inteira porque a folha ficou presa e "indo" sozinha.


E você? Quais são os seus tesouros emocionais?

***

3 comentários:

Unknown disse...

AMEI!!!!
Principalmente da frase "De concreto, mesmo, só o abstrato"
Amei todo o texto.

Edu Corrêa disse...

Que bonito, Ju!
Há tempos fiz algo parecido no blog, e as lembranças me emocionaram.

Faltou uma foto sua, pequenina...

Ju Foch disse...

Edu,

minhas fotos ficaram no Brasil... :(

Mas o que posso dizer, sem nenhuma modéstia (verdadeira ou falsa) é que eu era uma criança muito bonitinha! ;)

Quando estiver de volta, me lembre que eu mostro as fotos.