"Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende"
Leonardo da Vinci

domingo, 12 de dezembro de 2010

Sonetos de Vinícius de Morais - o Amor Total, a Fidelidade e a Separação

Fonte: Blog Santa Maria...
Já tive oportunidade, aqui neste blog*, de recomedar o documentário sobre Vinícius de Morais, de que gostei tanto que comprei um exemplar para minha coleção particular de filmes (coleção esta que está sempre em constante crescimento).

Logo na entrada do meu quarto, em meu cantinho no meu país, tenho uma placa metálica que me foi presenteada por uma amiga mais do que querida,  em que está gravado o "Soneto da Fidelidade", que eu particularmente adoro.

Matando um pouco das saudades, parei pra ler o soneto uma vez mais e dessa leitura surgiu um link interessante com os sontetos do amor total e da separação. Os dois parecem complementar o soneto da fidelidade, um, antecendendo-o, outro, o arrematando; os três juntos mostrando o fluxo constante que move o mundo, as emoções, os amores, as relações.

Tenho consciência que sou viciada; viciada em me sentir viva, em amar, em acreditar, em tentar, em não me acomodar. Estava adormecida, mas desisti desse estado letárgico em que me encontrava... Agora me decidi. Se eu tiver que chorar, que seja de emoção. Se eu tiver que me cansar, que seja de tanto amar. E se eu tiver que sofrer, que sofra por tanto gostar. E se algum dia me machucar novamente, o que acredito que sempre poderá acontecer, dou uma pausa, respiro, me cicatrizo, e me jogo novamente. Por que de que vale estar vivo sem viver?

E, assim, calo-me diante das palavras do "poetinha"... Depois de tanto dizer, o mais nos resta? Meu coração está aí... 

Fonte: Tem mais samba


Soneto do Amor Total

"Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade ...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude."


Soneto da Fidelidade
"De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
 
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
 
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure
"


Soneto da Separação
"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
 
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
 
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
 
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente."


Mas, como, felizmente, a vida é cíclica, uma separação é o passo necessário para que algo de novo possa surgir. É uma forma de preparação do terreno de nosso coração para um novo cultivo e uma nova colheita. Podemos sofrer, isso faz parte. Muito provavelmente, sofreremos. E há vezes em que queremos ficar presos àquele campo, ao conforto do conhecido.  Há sempre tantas coisas envolvidas que nos esquecemos do prazer de estar vivo. E, assim, deixamos de viver. Nos conformamos e sobrevivemos, mas não vivemos...Eu não quero esse marasmo. A felicidade é muito importante para ser negligenciada. Quero as emoções verdadeiras, aquelas que nos cortam o fôlego e as palavras.

 Mais uma vez, o poeta fala por mim... Das suas palavras, faço as minhas...


"Tomara
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho

E chore, se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho

Tomara

Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz

E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina

Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...
"

 
Fonte: Som do Vialejo



*Ju en France - Vai, vai, vai... viver!

4 comentários:

Anônimo disse...

Nossa Ju!

Adorei ver tantos sonetos num post só...

Especialmente o "Tenho consciência que sou viciada..." que eu não conhecia e que achei a minha cara! É do Vinicius também?

Grande beijo para você!

http://omundoparachamardemeu.blogspot.com/

Ju Foch disse...

Dani,

fiquei muito feliz com o seu comentário... em especial com o elogio à parte do "tenho consciência que sou viciada...", pois essa não é uma citação, mas algo que escrevi naquele momento, fazendo o link entre os sonetos.

Beijão!

Ju

Guto disse...

Sagrado poetinha que amava White Horse e já dizia que este era o cachorro engarrafado...a mais pura verdade....rsrsrs

Unknown disse...

Simplesmente sensacionais! Não somente os sonetos, mas seu texto, a sua postura diante das dificuldades amorosas e da vida como um todo. São palavras capazes de me fazer parar para pensar sobre tudo isso. Parabéns, Juliana!