"Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende"
Leonardo da Vinci

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A viagem

Eduard Munch - O dia seguinte (1894)

Combinamos, eu e minha mãe, de nos encontrarmos em Paris para passarmos, juntas, o Natal.

Ela partiria do RJ no domingo a tarde. Eu, de Toulouse na segunda de manhã.

Tudo certo, combinado e marcado. 

No domingo, contudo, o vôo da mamãe foi cancelado em razão de forte nevasca no aeroporto de Paris. Cancelado seu vôo, somente lhe seria possível partir para a França na tarde do dia seguinte. 

Em razão do meu voo, marcado para 06h30 de segunda, eu deveria chegar no aeroporto até 05h30, horário em que não há transporte público em Toulouse. Liguei para um amigo e peguei o telefone de uma cia de táxi de confiança dele. Marquei o táxi para 05h00 de segunda.

Como medo de não acordar em tempo, sequer dormi de domingo para segunda, tendo aproveitado para assistir um “filme cult” francês, mas que, ao meu sentir, não tinha nada, absolutamente nada, de “cult”; estava mais para uma versão francesa de “Todo mundo em pânico” do que qualquer outra coisa. O filme, se você quiser experimentar essa tortura, se chama “La cité de la peur” e trata de um filme B de terror a ser lançado em Cannes e que serviria de inspiração a um “serial killer”, que se fantasia como o assassino do filme B... 

Tudo bem. Passei pela tortura direitinho, resignada, sem ter a menor idéia do que me aguardava.

Arrumei meu quarto, joguei o lixo fora, coloquei água nas minhas “mini-plantinhas”, acendi um incenso e parti para esperar o táxi. A lua cheia iluminando a escuridão daquele dia que relutava em nascer.

Tudo certo, o taxista chegou pontualmente e, simpático, fomos conversando todo o caminho e chegamos ao aeroporto em 10 minutos.

Fiz o check-in e me apresentei ao setor de segurança, para passar pelo raio-x, sendo obrigada a tirar casaco, relógio, cinto e bota.

Como o tempo permitia, saí descalça pelo aeroporto até encontrar uns puffs em que me sentei para calçar as botas, pois tal atividade acho que pode ser comparada ao que imagino que seja um “parto de criança cabeçuda”...

Cheguei ao portão de embarque, me sentei e fiquei lendo e ouvindo música aguardando a chamada de meu voo. Se tudo desse certo, as 08h00 estaria desembarcando no Aeroporto Charles De Gaule. Se tudo desse certo... E esse “se” era todo o problema.

O embarque começou as 06h00 e partimos as 06h30, com previsão de voo de 1h30.

Contudo, quando chegávamos próximo de nosso destino, o piloto nos dá as “boas novas”. Os Aeroportos de Paris (Charles de Gaule e  Orly) estavam fechados em razão da nevasca e nós não tínhamos combustível suficiente para sobrevoar Paris aguardando sua reabertura. O jeito seria irmos para outro aeroporto, para reabastecer e aguardar a reabertura dos Aeroportos de Paris.

E lá fomos nós.

Chegamos ao outro aeroporto sem poder desembarcar da aeronave. Aguardamos o abastecimento. Aguardamos a reabertura. Aguardamos... e nada.

O piloto, então, informa que iríamos decolar em direção a Paris, mas no meio do caminho, chama nossa atenção para o fato de que as condições climáticas de Paris continuavam desfavoráveis e que, por fim, retornaríamos a Toulouse.

Chegamos a Toulouse e ficamos presos na aeronave por cerca de 45 minutos, pois não havia nem ônibus nem escadas para nosso desembarque.

Fiquei pensando como somos mal acostumados e como reclamamos dos nossos aeroportos. Fiquei imaginando se tudo isto estivesse acontecendo no Aeroporto Galeão, como seriam as manchetes? Pois é... Dá pra imaginar, não?

Eram 13h00 quando desembarcamos em Toulouse, depois de 5h00 de caos sobrevoando a França.

Fomos, então, recuperar nossas bagagens e tentar obter a troca da passagem.

 Uma fila gigantesca; 2 horas de espera para, ao final, cansada e com fome, ser informada que eu só poderia ser “encaixada” no voo de quarta-feira a noite e se quisesse o reembolso, deveria solicitá-lo pela internet ou por telefone.

Já eram 15h15 quando, sem reembolso e sem passagem, fui comprar uma passagem “sobretaxada” de TGV (trem de grande velocidade) para ir a Paris naquele mesmo dia, pois minha mãe chegaria na terça pela manhã e eu precisava chegar antes dela para lhe auxiliar.

Comprei a passagem do trem com horário mais cedo disponível, o das 17h35, que chegaria a Paris as 23h00 de segunda.

Parei no Paul, uma cafeteria “tradicional” daqui para comer algo. Comprei um sanduíche e uma caixinha com “mini macarons” sortidos, de longe os melhores que já comi até hoje, e, talvez, os responsáveis pelos melhores momentos desse caótico dia.

Caminhei, então, em direção à saída do aeroporto, onde deveria pegar o ônibus para ir do Aeroporto à estação de trens.

Chegando lá, assisti a uma cena das mais insólitas: um rapaz de seus 25 anos “sentava a mão” violentamente no rosto de um senhor de seus 60 anos, fazendo um estrondo enorme e arremessando os óculos do senhor a uma enorme distância. Fiquei ligeiramente em choque com a cena e corri para catar os óculos do senhor e tentar socorrê-lo de alguma forma. Mas o que mais me impressionou foi a sua reação: nenhuma. Ele ficou tão estupefato que não teve qualquer reação.

Como não poderia deixar de ser, o trem, ainda, estava com atraso de 20mn. Mas o que são 20 minutos pra quem está há mais de 12 horas tentando sair da cidade?
A viagem do TGV foi tranquila. Fui intercalando momentos de cochilos encostada na janela do trem com momentos de papo com o rapaz sentado ao meu lado, engenheiro florestal que estudou por 7 anos em Toulouse. 

Cheguei a Paris, peguei um táxi e cheguei ao meu hotel, um simpático pequeno hotel. Deixei minhas coisas no quarto e fui tratar de encontrar algo para comer às 23h50... 

E assim, depois de quase 19 horas de "viagem", chego a Paris...

***

3 comentários:

Anônimo disse...

J'ai appris des choses interessantes grace a vous, et vous m'avez aide a resoudre un probleme, merci.

- Daniel

alexandro.x.pinheiro disse...

Ave Maria Juju!
Vc deve ter tido muita paciência para superar esse obstáculo para vêr a sua mãe. Bjsss!!!!

VIVA GALEÃO!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Anônimo disse...

Nossa, Jú! Que jornada...

Mas tenho certeza que valeu a pena: Natal com a mãe em Paris não tem preço!!

http://omundoparachamardemeu.blogspot.com/