"Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende"
Leonardo da Vinci

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A carioca e o Vigarista

Não, esta não é uma versão adaptada de “A Dama e o Vagabundo”, mas apenas o relato de algo que aconteceu comigo em Carcassonne, no domingo passado, 24/10.

Após o jantar, voltei ao meu quarto e peguei o laptop para poder acessar a internet e falar com minha família e com meus amigos.

Desci para o hall do hotel, único local onde há sinal de internet, me sentei numa poltrona massageadora e fiquei “navegando”.

O hall do hotel fica de frente para a porta de entrada e as janelas envidraçadas que dão para a rua.

Estava sozinha na sala, pois a recepção fecha por volta das 19:00 e já eram quase 22:00 quando lá cheguei.
Estava tudo muito agradável: “musiquinha” ambiente (tocou até Djavan na rádio RFM), chaise de couro, massagem nas costas... Mas por mais de uma vez tive a impressão de ver alguém passar pelas janelas.

Já passava das 23:00 quando um senhor, de cabelo grisalho, vestindo moletom e fumando um cigarro bateu à porta sinalizando para que eu a abrisse para ele. O homem parecia estar embriagado ou drogado, não sei...

Falei para que ele digitasse o código que destranca a porta, pois, se ele fosse hóspede, saberia o código. Ele fez que não lembrava... Mandei que ele olhasse na sua chave, pois o código estaria ali... Ele disse que não estava com a chave...

Nesse momento, ele abriu uma pochete que trazia consigo e tirou uma caixa que parecia um porta-cigarros. Abriu-a e lá, junto com um baseado, havia um documento de identidade que ele queria me mostrar.

Fiz que não; que não era o documento de identidade, mas a chave que ele deveria procurar. E nesse momento pude reparar melhor no homem que ali se apresentava. Ele tinha as feições duras, de alguém “calejado”, as mãos e as unhas sujas e as roupas estavam queimadas de cigarro.

Saí de perto da porta por um tempinho, mas o homem continuava ali, prostrado na porta do hotel, me encarando.

Por algumas vezes o flagrei olhando para o meu laptop sobre a poltrona, o que só fez aumentar minhas suspeitas.

Falei, então, para que ele ligasse para o número de telefone dos responsáveis pelo hotel, pois, se ele fosse hóspede, eles, certamente, lhe abririam a porta. Mostrei-lhe o número que estava anotado numa folha sobre o balcão da recepção e ele me respondeu que não tinha como ligar, pois estava sem o celular.

Então, falei que eu ligaria para o tal número. Fui ao meu quarto, apanhei o celular e voltei ao hall do hotel, em cuja porta o homem ainda aguardava (com o olhar fixo no meu laptop). Liguei para o número indicado para emergências. 

O telefone tocou umas 2 vezes e ouvi, do outro lado da linha, a voz da proprietária do hotel. Pedi mil desculpas pela hora, pois já eram 23:40 e expliquei-lhe toda a situação. Disse-lhe que não queria abrir a porta, pois não sabia se ele era hóspede, já que ele não sabia o código e não tinha chaves e pedi que ela ou o marido dela fossem lá resolver a situação. Ela, então, me perguntou como era o tal senhor e se ele continuava na porta. Disse-lhe que sim, ele continuava na porta (olhando pra mim e pro laptop), ao que ela me respondeu que não conseguia vê-lo.

De onde ela olhava, não sei, mas, se ele estava na porta e ela não conseguia vê-lo era porque, provavelmente, ele sabia de algum “ponto-cego” daquele espaço... Minhas suspeitas (e, claro, o medo) ficaram ainda mais fortes...

A dona do hotel me agradeceu e desligamos.

Avisei ao senhor que tinha falado com os responsáveis pelo hotel e que eles já viriam atendê-lo. (Mentira descarada, pois a dona do hotel havia dito que não iria lá, que eu não devia me preocupar e que, simplesmente, não era para abrir a porta).

Ele agradeceu e, segundos depois, partiu.

Logo em seguida, meu telefone tocou. Era a proprietária do hotel me agradecendo mais uma vez, pois vira o homem indo embora.

Pelo sim, pelo não, fui com o laptop para as escadas, num ponto em que não era possível ser vista da rua, e terminei de falar com minha família escondida num cantinho da escada... Menos confortável, é bem verdade, mas bem menos vulnerável.

Resumo da ópera: o vigarista até tentou aplicar o seu golpe (não sei se para assaltar o hotel, ou para roubar o laptop, ou para que), mas carioca que se preze é desconfiado por natureza, e o vigarista ficou a ver navios...

Como diria Wilson Simonal: “Nem vem que não tem. Nem vem de garfo que hoje é dia de sopa.”.

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