"Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende"
Leonardo da Vinci

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Uma festa brasileira na França


No aeroporto de Paris (CDG), enquanto aguardava o voo para Toulouse, comecei a leitura do deliciante livro "Brasil: uma história", escrito pelo jornalista e historiador Eduardo Bueno (Editora Leya. São Paulo, 2010).
O livro é maravilhoso. Conta a história do Brasil desde antes de existir o Brasil, abordando, inclusive a pangea e a formação do solo desse nosso país ao longo dos milenios.

Bom; seguindo a leitura, me deparei com o capítulo "Uma Festa Brasileira na França", cuja ilustração reproduzi no início desta postagem e cujo conteúdo reproduzo, parcialmente, abaixo:

"O profundo impacto que os indígenas brasileiros provocaram nos viajantes europeus, ao serem vistos - desnudos, pintados, dançando (e eventualmente devorando uns aos outros) - nas praias do Novo Mundo, seria largamente amplificado assim que alguns deles foram levados para a Europa e exibidos nas cortes. (...)
Mas nenhuma iniciativa dos franceses envolvendo os nativos do Brasil pode ser comparada, em assombro e magnificência, à chamada 'Festa Brasileira em Rouen'.
Dispostos a impressionar o rei Henrique II e a rainha Catarina de Médici - e convencê-los a investir mais nas expedições 'ilegais' ao Brasil -, os armadores e comerciantes de Rouen prepararam uma impressionante celebração quando da visita real à cidade, no dia 1o de outubro de 1550. Em uma área, às margens do rio Sena, montaram uma autêntica maquete das terras brasileiras: as árvores foram enfeitadas com flores e frutos trazidos do Brasil, o cenário ficou repleto de micos, saguis e papagaios.
Entre as malocas indígenas, desnudos e bronzeadosm andavam trezentos homens e mulheres. Pelo menos cinquenta eram Tupinambá genuínos, trazidos da Bahia ou do Maranhão especialmente para a comemoração. Os demais eram marinheiros normandos que conheciam bem o Brasil, fluentes em tupi e habituados no trato com os nativos. As mulheres foram recrutadas entre as prostitutas locais.
Era mais do que uma exibição: era um quadro vivo. E, desde o início, havia ação: indígenas e figurantes caçavam, pescavam, namoravam nas redes, colhiam frutas e carregavam o pau-brasil. E então, subitamente, no clímax do espetáculo, a aldeia tupinambá foi assaltada por um bando de Tabajara - índios que, no Brasil, eram aliados dos portugueses. Ocas foram incendiadas, canoas viradas, árvores derrubadas. Houve um combate simulado, ainda que feroz, ao fim do qual os Tabajara haviam sido amplamente derrotados. Na plateia, além do rei e da rainha franceses, estavam também a rainha Mary Stuart, da Escócia, duques, condes e barões, os embaixadores da Espanha, da Alemanha, de Portugal e da Inglaterra, bispos, prelados, cardeais e inúmeros príncipes, além de Nicolas Villegaignon, futuro líder da chamada 'França Antártica' - todos assombrados com aquela espetacular representação da vida nos trópicos: o primeiro show brasileiro na Europa."

Muita água já passou não apenas debaixo da ponte, mas nas correntes marítimas do Oceano Atlântico, e, lendo essa parte da nossa história, espero, sinceramente, que os franceses já tenham se preparado para conhecer verdadeiramente um outro Brasil; um país que se orgulha de sua terra, de seu povo e de sua cultura; um país que produz pessoas de pele morena, misturadas no caldeirão da miscigenação...

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